O coronelismo é um fenômeno
que se iniciou no Brasil após a proclamação da República. Com o fim do voto
censitário – que exigia do cidadão uma renda mínima para poder votar – o número
de brasileiros eleitores aumentou e as elites do império passaram a se utilizar
desse fenômeno para se manter no poder. “Concebemos o coronelismo como
resultado da superposição de formas desenvolvidas do regime representativo a
uma estrutura econômica e social inadequada (…) o coronelismo é sobretudo um
compromisso, uma troca de proveitos entre o poder público, progressivamente
fortalecido, e a decadente influência social dos chefes locais, notadamente, os
senhores de terras”. Ou seja, o coronelismo era uma troca de favores entre
os menos favorecidos e os coronéis, e entre estes e o poder público.
Durante o período regencial
(1831-1840), uma série de revoltas populares eclodiram pelo país. Para
controlá-las, o governo criou a chamada Guarda Nacional. Essa guarda era
particionada por grandes senhores de terras, que ganhavam o título de
“coronel”. Com o início da República, a Guarda perdeu espaço gradualmente, até
deixar de existir em 1922. Mas o prestígio e influência dos coronéis continuou.
Assim, eles se mantiveram como chefes políticos de áreas próximas à sua
propriedade, ou de sua vizinhança. Essas áreas eram chamadas de currais
eleitorais. O coronel mantinha com seu curral eleitoral uma troca de
favores: ele protegia a população do “curral”, e esta o obedecia. Assim,
durante a época das eleições, todas as pessoas que dependiam do coronel votavam
no candidato que ele indicava. Essa prática ficou conhecida como voto de
cabresto, expressão que compara o eleitor a um animal controlado por
alguém.
Além disso, o eleitor podia
ser pressionado pelo coronel, visto que o voto era aberto: se escrevia em um
papel o nome do candidato e a assinatura do eleitor ao lado. Com isso, era
fácil saber em quem o eleitor tinha votado.
A relação entre coronéis e
curral eleitoral servia para sustentar não somente o poder local, mas toda uma
relação política que ficou conhecida como Política dos Governadores. Ela
consistia em uma troca de favores que ia do nível municipal até o federal.
Naturalmente, a ação sobre os agregados é mais forte do que com os outros. Com
os primeiros, existe troca de favores: "para ele (o coronel), favor é
dar um dia de serviço quando o pobre está passando fome; é não deixar que vá
preso quando se embriaga e tenta subverter a ordem pública; é dar a roupa e o
calçado para votar; é dar o remédio e o médico quando o pobre está doente; é
afiançá-lo na loja do comerciante para comprar a roupa; é dar-lhe terra e
fornecer dinheiro para plantar e limpar o roçado. Em troca desses favores
exige, naturalmente, outros favores. Exige que leve e traga os recados. Exige
que vá à feira comprar e trazer as mercadorias. Exige respeito e acatamento às
suas ordens Exige que açoite ou mate o adversário quando lhe ofende. Exige que
bote água e lenha em casa. Exige, finalmente, o voto. O voto que é o instrumento
poderoso com que o chefe mantém o seu prestígio, o seu domínio, a sua posição
de líder. Sem isso estaria terminado o seu ciclo, a sua gestão, o seu feudo"
Sendo o poder do coronel
local, é grande o seu controle sobre empregos públicos; e, também, na nomeação
ou demissão das autoridades; como no aumento ou baixa de impostos, segundo a
sua conveniência ou inconveniência, quando quer servir amigos ou prejudicar
outros. Prefeitos, governadores e até mesmo os presidentes venciam as eleições
com ajuda desses grandes fazendeiros, que interferiam no resultado através do
voto de cabresto, símbolo da prática do coronelismo.
Os coronéis garantiam votos
nos municípios para os presidentes de estado (título dado aos governadores na
época) em troca de apoio e verbas; e os presidentes de estado apoiavam o
Governo Federal, que em troca não interferia nas eleições estaduais. Todas
essas práticas, alinhadas a outras, como a de colocar na lista de eleitores
pessoas mortas ou que nem sequer existiam, serviram para manter as oligarquias
rurais no poder.
João Pessoa assumiu o governo
da Paraíba em 1927 indicado pelo seu tio, Epitácio Pessoa, que já havia sido
presidente da república e era o líder da oligarquia paraibana. Outro sobrinho,
Francisco Pessoa de Queiroz, foi preterido na disputa e mudou-se para o Recife
onde se afirmou como empresário e político, mas sem desistir de influir na vida
paraibana. Ao assumir o governo, tomou medidas no sentido de reprimir o
clientelismo que marcava as relações entre o governo estadual e os coronéis nos
municípios.
João Pessoa discordava da
forma como grupos políticos que o elegera, conduziam a política paraibana, onde
era valorizado o grande latifundiário de terras do interior, possuidores de
grandes riquezas baseadas no cultivo do algodão e na pecuária. Estes “coronéis”
atuavam através de uma estrutura política arcaica, que se valia entre outras
coisas do mandonismo, da utilização de grupo de jagunços armados e outras ações
as quais o novo governador não concordava. Nos seus redutos, eram eles que
apontavam os candidatos a cargos executivos, além de nomearem delegados,
promotores e juízes. Eles julgavam, mas não eram julgados. Verdadeiros senhores
feudais, nada era feito ou deixava de ser feito em seus territórios que não
tivesse a sua aprovação. Mas João Pessoa passou a não respeitar mais as
indicações de mandatários para nomeações de cargos públicos.
Por esta época, esses coronéis
exportavam seus produtos através do principal porto de Pernambuco, em Recife,
provocando enormes perdas de divisas tributárias para a Paraíba. Procurando
evitar esta sangria financeira e efetivamente cobrar os coronéis, João Pessoa
implantou diversos postos de fiscalização nas fronteiras da Paraíba, irritando
de tal forma estes caudilhos, que pejorativamente passaram a chamar o
governador de “João Porteira”.
Com o sistema de arrecadação
tributária, aplicado pelo presidente, haveria distinção entre as mercadorias
importadas pelo litoral, através do Porto de Cabedelo, e aquelas que entravam
na Paraíba pelas fronteiras terrestres. Essas medidas, consolidadas com a Lei
número 673, de 17 de novembro de 1928, tornou a prática do comércio dos
sertanejos com os estados vizinhos impossível. Em Pernambuco, estado atingido
diretamente pelas medidas, foi iniciada uma campanha no Jornal do Commércio
pelos irmãos Pessoa de Queirós, primos de João Pessoa, contra a chamada “guerra
tributária”. Na Paraíba, a defesa da administração do presidente ficou por
conta do jornal A União, veículo oficial.
Na Guerra Tributária, travada de
março a julho de 1929, pela Imprensa, já se esboçava o quadro da futura guerra
civil de Princesa. Isto porque, enquanto João Pessoa contava com apoios na
capital e centros urbanos, tinha contra si a burguesia compradora do porto de
Recife, a que se ligavam os grandes proprietários de algodão e cana-de-açúcar.
Entre esses destacavam-se o coronel José Pereira Lima, como mais influente
chefe político do sertão e eminência parda do governo Suassuna e os Ribeiro
Coutinho da várzea do Paraíba, cujos açúcar e gado a presidência do estado
desejava taxá-los.
REFERENCIAS HISTORIAGRÁFICAS:
CENÁRIOS E
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É incrível como esse artigo que montei sobre o coronelismo da década de 1920 se encaixa tão perfeitamente com a política de hoje em nossos pequenos municípios do RN, vale a pena ler! Pois não terá como o leitor se desvencilhar da realidade em que ele está inserido abrindo os olhos para o coronelismo que ainda existe hoje em nosso meio, com os mesmos currais eleitorais!
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