José Pereira Lima (1884-1949)
era o mais poderoso coronel do sertão da Paraíba pelo qual falava como espécie
de primeiro ministro. Vaidoso e simulado, assistira à erosão da autoridade sob
o governo João Pessoa (1878-1930). Rico produtor de algodão, economicamente
também vinha experimentando perdas. Seu algodão, destinado ao porto do Recife,
onde os Pessoa de Queiroz o comercializava, era exportado sem pagar impostos
pelo Estado de Pernambuco. Com a política tributária de João Pessoa, via-se
obrigado a sair por Cabedelo-PB por meio de estradas insatisfatórias que só
conectavam com a linha férrea em Campina Grande, a mais de trezentos
quilômetros de Princesa. Os prejuízos do coronel tornavam-se elevados, o que o
levava a secundar as reclamações dos Pessoa de Queiroz. Vários outros coronéis
também pensavam assim, daí porque o movimento de Princesa espalhou-se por
Misericórdia, Conceição, Vale do Piancó, Catolé do Rocha, Pombal e Monteiro. Senhor
absoluto dos comandados, José Pereira Lima, com total apoio do Palácio do
Catete, conseguiu que Princesa se tornasse território livre e independente, com
constituição própria, hino e bandeira próprios, exército próprio, enfim,
legalmente separada do Estado da Paraíba. A família Pessoa de Queiroz, com quem
o chefe princesense mantinha laços econômicos e pessoais estreitos e marcantes,
e a posição do Presidente da República Washington Luiz era ambígua: o governo
federal simpatizava com a rebelião, mas o Presidente que se recusava a apoiar o
governo constituído de João Pessoa, proclamava que se o depusessem recorreria
ao Exército para repô-lo no poder. O presidente João Pessoa, com a finalidade
de municiar a polícia do Estado, pede ao Ministro da Guerra, Nestor Passos,
"autorização para importar da França, cem mil cartuchos, para fuzil
Mauzer", em 8 de abril de 1930. A autorização foi negada.
O município, que já tinha visto passar diferentes grupos de
cangaceiros, passou a ser reduto de valentia e independência. Foram travadas
sangrentas batalhas e inúmeras vidas foram perdidas. Princesa se tornou uma
fortaleza inexpugnável, resistindo palmo a palmo ao assédio das milícias leais
ao Presidente João Pessoa. Colunas pereiristas incursionaram sobre esses
municípios defrontando-se com a polícia. A Secretaria de Segurança estabeleceu
quartel-general em Piancó e dividiu suas forças em pequenos grupos para conter
os revoltosos. Estes retraíram-se mas a luta chegou a um impasse - os
pereiristas não conseguiram conflagrar o sertão para propiciar a intervenção do
governo federal, mas os legalistas não conseguiram tomar Princesa.
Dispondo de prestígio na capital e centros urbanos, João Pessoa
recorreu à obtenção de donativos em armas e balas. Mineiros e gaúchos enviaram
alguma coisa, mas a vigilância das autoridades federais na Paraíba dificultava
o recebimento do material. Quando Pessoa pediu licença ao governo de Pernambuco
para penetrar em seu território, a fim de cercar Princesa pela retaguarda, o
governador Estácio Coimbra recusou o pedido. Os governantes do Ceará e Rio
Grande do Norte também hostilizavam João Pessoa. O cerco à Paraíba era quase
total. Reunindo as últimas energias, João Pessoa tentou solução no campo de
batalha.
O Governo do Estado prepara o golpe que supunha fatal e envia à
Princesa 220 homens em doze caminhões e farta munição sob o comando do tenente
Francisco Genésio, e, pasmem, para espanto dos leigos e estrategistas, um
feiticeiro que “benzia a estrada”, a cada parada, dizendo: ‘Vamos pegar Zé
Pereira à unha!’. Os soldados sentiam-se mais protegidos e aplaudiam com
entusiasmo o novo protetor, pois com ele estariam imunes às balas. Não foi o
que aconteceu. Ao chegarem ao povoado de Água Branca, no dia 5 de junho de
1930, foram recebidos à bala, numa emboscada fulminante. O primeiro a ser
atingido, com um tiro na testa, foi o dito feiticeiro. Os caminhões foram
queimados; quem não conseguiu fugir, morreu; inclusive o tenente Francisco
Genésio. Mais de 100 mortos e 40 feridos.
Foram quase cinco meses de combates inenarráveis, quando se
destacaram nomes como Marcolino Pereira Diniz, Manuel Lopes Diniz, Cícero
Bezerra, Sinhô Salviano, João Paulino, Caixa de Fósforo, entre outros, do lado
do “Coronel” José Pereira, enquanto combatentes fiéis a João Pessoa se
destacaram Coronel Elísio Sobreira, Raimundo Nonato, Clementino Quelé, Jacob
Franz, gaúcho que saiu do Rio Grande do Sul para servir à causa da Aliança
Liberal, entre muitos outros, comandados pelo Secretário de Interior e Justiça
José Américo de Almeida.
Impressiona o número de baixas dos militares paraibanos quando
da guerra de Princesa em 1930, pois em todos os combates registraram-se perdas
consideráveis para os “legalistas” a serviço do governo João Pessoa. Princesa
está localizada em área montanhosa, a qual perfaz continuidade do planalto da
Borborema, sendo caracterizada pelas formações rochosas que serviram de aliadas
em diversas tocaias que levaram morte, terror e pânico aos valentes soldados do
bravo Presidente. Do alto das serras que circundam Princesa tinha-se visão
panorâmica que permitia vislumbrar qualquer aproximação de tropas, tornando-se
fácil preparar nos mínimos detalhes tocaias fatal, como a que destroçou a
Coluna da Vitória logo após Água Branca. O conhecimento das condições naturais,
incluindo vegetação extremamente útil para adaptações em condições de
guerrilha, caso do acontecido em Princesa, aliou-se à perspicácia dos sertanejos
comandados por José Pereira.
Com data de 22 de maio de 1930, o jornal do governo "A
União" publicava:
"As deserções entre os ladrões e assassinos do traidor José
Pereira aumentam diariamente, principalmente agora que elles já sabem que o
reducto central do seu chefe poderá ser transformado em um montão de ruínas,
dentro de poucos minutos pela esquadrilha aérea da Força Pública" .
João Pessoa tenta nova investida. Incapaz de dominar a cidade
rebelde, ele apela para a guerra psicológica: a ameaça de Princesa ser
bombardeada. Com essa ameaça veio a reação do "coronel" José Pereira,
que continuava dono da situação, e, com suas colunas de guerrilheiros fustigava
várias cidades do Estado da Paraíba, na tentativa de atemorizar as tropas da
polícia.
No dia 6 de junho de 1930 o Governo do Estado tentou nova
investida contra a cidade rebelde. Enviou do Quartel General da Polícia
Militar, em Piancó, um avião pilotado pelo italiano Peroni, com a missão de
lançar panfletos, concitando o povo a abandonar a luta, senão a cidade seria
bombardeada dentro de 24 horas. A reação da cidade foi diversa. Teve quem
dividisse espaço com os penicos debaixo das camas, e teve quem saisse pelas
ruas atirando no invasor. Só não derrubaram a aeronave porque o piloto, vendo o
perigo, subiu acima de três mil pés para ficar fora do alcance das balas. O major Feliciano Florêncio atirava do quintal
de sua casa situada na descida da Rua Nova com o “comblain” do século XIX no
momento em que o avião soltou uma ruma de panfletos. Ele não se conteve:
“Acertei nas penas!”. A fuzilaria encheu a rua principal de Princesa de fumaça.
Até passarinho foi pego por bala doida. O coronel, que se encontrava em casa,
saiu à rua mandando os cabras pararem o tiroteio, porque sabia que aquilo era
um estrago de munição. A “guerra” durou menos de meia hora, ao fim da qual o
aparelho embicou o focinho para as bandas do Piancó levando nas asas alguns
furos de bala. O panfleto trazia a seguinte mensagem:
"O governo da Paraíba intima-vos a entregar as vossas
armas. Vossas vidas serão garantidas, dando o governo liberdade aos que não
respondem por outros crimes. Convém ouvir a palavra do governo. Deveis
apresentar-vos aos nossos oficiais. Dentro de 24 horas Princesa será
bombardeada pelos aeroplanos da polícia e tudo será arrasado. Evitai o vosso
sacrifício inútil. Ainda é tempo de salvar-vos. Não vos enganeis; vossos chefes
estão inteiramente perdidos".
O bombardeio não veio. A missão falhou.
Com a assinatura do deputado estadual e chefe dos revoltosos,
"coronel" José Pereira, do Prefeito Municipal, José Frazão de
Medeiros Lima, do presidente da câmara dos vereadores, Manoel Rodrigues Sinhô e
do vereador Antônio Cordeiro Florentino, foi publicada na primeira página do
"JORNAL DE PRINCEZA", do dia 21 de junho de 1930, o Decreto n.º 01,
proclamando autonomia político-administrativa em relação ao governo Estadual,
porém subordinado politicamente ao poder político federal
Sobre Princesa, Ruy Facó destacou em Cangaceiros e
Fanáticos que o território transformou-se em uma fortaleza
inexpugnável que sobre seus muros vacilavam as tropas regulares. Com
certeza, pois a cidadela insurgente e seus arredores foram fortificados e
defendidos com unhas e dentes na maior demonstração de rebeldia do mandonismo
local na República Velha.
REFERENCIAS
HISTORIAGRÁFICAS:
CENÁRIOS & FOTOGRAFIAS ARMY MEN: Freitas
Júnior - Historiador & Poeta:
https://www.facebook.com/profile.php?id=100017290650832
https://www.facebook.com/profile.php?id=100017290650832
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