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CENÁRIO ARMY MEN: Soldados Italianos em Roma |
O melhor
exemplo de economia fascista foi o regime do ditador italiano Benito
Mussolini.
Acreditando que o liberalismo (ou seja, a liberdade e o livre mercado) tinha “esgotado
sua função histórica”, Mussolini escreveu: “o mundo para o Fascismo não
é esse mundo material, como aparenta superficialmente, onde o homem é um
indivíduo separado dos outros, condenado à solidão... O Fascismo reafirma o
Estado como a verdadeira realidade do indivíduo.” Esse coletivismo é
compreendido na palavra fascismo, que deriva do latim fasces, nome dado a um
feixe de varas ligadas em torno de um machado.
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O Rei Vitor Emanuel III encarregou Benito Mussolini de formar o novo governo |
O Fascismo na
Itália nasceu a partir de dois outros movimentos: o sindicalismo e o
nacionalismo. Os sindicalistas acreditavam que a vida econômica deveria
ser governada por grupos que representassem os trabalhadores das indústrias e
manufaturas. Os nacionalistas, feridos pelo tratamento dispensado à
Itália após a Primeira Guerra Mundial, combinavam a ideia da luta entre as
classes com a ideia de uma luta entre as nações. Diziam que a Itália era uma
nação proletária e que, para obter uma parte maior da riqueza mundial, todas as
classes italianas deveriam se unir. Mussolini foi um sindicalista que se tornou
nacionalista durante a Primeira Guerra Mundial.
De 1922 a 1925,
o regime de Mussolini seguiu a política econômica do laissez-faire, sob
o comando de um ministro de finanças liberal, Alberto De Stefani. O ministro
reduziu impostos, regulações, restrições comerciais e permitiu que empresas
competissem umas com as outras. Porém, essa oposição ao protecionismo e aos
subsídios desagradava alguns líderes da indústria e De Stefani acabou tendo que
pedir demissão. Quando Mussolini consolidou sua ditadura, em 1925, a Itália entrou
em uma nova fase. Como vários outros líderes daquele tempo, Mussolini
acreditava que a economia não funcionaria construtivamente sem a supervisão do
governo. Como um prenúncio do que aconteceria na Alemanha Nazista e até, de
certa forma, nos Estados Unidos após o New Deal, Mussolini iniciou um
grande programa que incluía um imenso déficit do governo, obras públicas e, por
fim, investimento militar.
O Fascismo de
Mussolini avançou ainda mais com a criação do Estado Corporativo,
uma estrutura supostamente pragmática, sob a qual as
decisões econômicas eram tomadas por conselhos compostos por trabalhadores e
empregadores que representavam o comércio e as indústrias. A partir desse
arranjo, a suposta rivalidade entre os empregados e os empregadores deveria ser
extinta, evitando que a luta de classes prejudicasse a luta nacional. No Estado
Corporativo, por exemplo, as greves seriam ilegais e ações trabalhistas
deveriam ser mediadas por uma agência estatal.
Teoricamente, a
economia fascista deveria ser orientada por uma complexa rede de empregadores,
trabalhadores e organizações administradas conjuntamente, representando
manufaturas e indústrias em nível local, provincial e nacional. No topo dessa
rede estava o Conselho Nacional das Corporações. Embora o sindicalismo e o
corporativismo tivessem lugar na ideologia fascista e fossem importantes na
construção de um consenso em apoio ao regime, o conselho pouco atuou na
condução da economia. As decisões reais eram tomadas por agências estatais,
como o Instituto para a Reconstrução Industrial (Istituto per la Ricosstruzione
Industriale, ou IRI), mediando os grupos de interesse.
A partir de
1929, em preparação para atingir as “glórias” da guerra, o governo italiano
utilizou medidas protecionistas para direcionar a economia em direção à
autarquia - ou à autosuficiência econômica. As políticas autárquicas foram
intensificadas nos anos seguintes, por conta da depressão e das sanções
econômicas impostas por outras nações sobre a Itália após a invasão da Etiópia.
Em 1931, Mussolini decretou que órgãos governamentais deveriam comprar apenas
produtos italianos e aumentou todas as tarifas sobre importações. As sanções
que seguiram a invasão à Etiópia estimularam a Itália a novamente, em 1935,
aumentar suas tarifas, enrijecer as quotas de importação e reforçar seu embargo
sobre produtos industrializados.
Mussolini
também eliminou a capacidade do mercado de tomar decisões independentes:
o governo
controlava todos os preços e salários, e firmas de qualquer indústria poderiam
ser forçadas a fazer parte de um cartel, caso a maioria se posicionasse nesse
sentido. Os líderes das grandes empresas tinham alguma participação na elaboração
de políticas, enquanto os pequenos empreendedores eram, na verdade,
transformados em empregados do estado, competindo com burocracias corruptas.
Eles aceitavam sua submissão na esperança de que as restrições fossem
temporárias. Vendo a terra como bem fundamental à nação, o Estado fascista
dominou a agricultura de uma forma ainda mais completa, definindo safras,
dividindo fazendas e fazendo das ameaças de expropriação um instrumento para
reforçar suas ordens.

O sistema
bancário também sofreu um controle extraordinário. Da mesma forma que as
indústrias italianas, o sistema bancário também afundou sob o peso da depressão
e da regulação e, enquanto o desemprego crescia, o governo criava programas de
empregos públicos, assumindo o controle sobre decisões em relação à construção
e expansão de fábricas. O governo criou o Istituto Mobiliare, em 1931, para
controlar o crédito, e o IRI, mais tarde, adquiriu todas as ações que os bancos
possuíam de empreendimentos na indústria, na agricultura e no setor imobiliário.
A imagem de um
líder forte assumindo responsabilidade direta sobre a economia durante momentos
de crise fascinou observadores estrangeiros. A Itália foi um dos lugares onde
Franklin Roosevelt buscou idéias em 1933. Criada por Roosevelt, o National
Recovery Act (NRA) tentou cartelizar a economia americana, da mesma forma
que Mussolini cartelizara a italiana. Sob a NRA, Roosevelt estabeleceu
conselhos para toda a indústria, com poder de determinar e aplicar preços,
salários e outras formas de emprego, produção e distribuição para todas as
companhias de determinada indústria. Por meio da Lei de Ajuste da Agricultura,
o governo exerceu um controle similar sobre os agricultores. Curiosamente,
Mussolini enxergava o New Deal de Roosevelt como “corajosamente... intervencionista
no campo da economia.” O nazismo de Hitler também partilhava muitos traços com
o fascismo italiano, inclusive na frente sindicalista. O nazismo também exercia
um controle governamental completo sobre a indústria, a agricultura, financiamentos
e investimentos.
Na medida em
que a Segunda Guerra Mundial se aproximava, os sinais do fracasso do fascismo
na Itália eram evidentes: o consumo privado per capita estava abaixo dos níveis
de 1929 e a produção industrial italiana, entre 1929 e 1939, tinha crescido
apenas 15% - menos que as taxas de crescimento dos outros países da Europa
Ocidental. A produtividade do trabalho estava baixa e os preços de produção não
eram competitivos. O erro econômico do fascismo residia na transferência do poder
de decisão dos empreendedores para os burocratas do governo e na distribuição
dos recursos, feita através de decretos, em detrimento do mercado. Mussolini
desenvolveu seu sistema para abastecer as necessidades do Estado, não dos
consumidores.
EXTRAÍDO DO TEXTO:
FOTO ARMY MEN: FREITAS JÚNIOR - HISTORIADOR E POETA
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