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ENGENHO DE AÇUCAR - HANRY KOSTER 1816 |
Por José
Romero Araújo Cardoso
Henry Koster era filho de um
comerciante inglês radicado em Lisboa (PT), tendo nascido na capital lusitana.
Devido à saúde frágil, estabeleceu-se no ano de 1809 em Pernambuco, onde se
tornou senhor de engenho em Itamaracá. Falava fluentemente o português, motivo
pelo qual ficou conhecido entre os nativos por Henrique da Costa. Faleceu por
volta de 1820 em Recife (PE).
Em 1810 empreendeu viagem a cavalo,
saindo de Recife em direção ao Ceará. A sete de dezembro, às dez horas da
manhã, chegou ao pequeno arraial de Santa Luzia, o qual não passou despercebido
à apurada visão do viajante inglês.
Em 1816 Koster publicou em Londres
livro que compila as observações feitas
durante a fantástica viagem, com título
de Travels in Brazil, em dois volumes. Em 1942 Câmara Cascudo traduziu,
prefaciou e comentou a obra do viajante inglês, sendo publicada pela Editora
Brasiliana, de São Paulo, dando-lhe o título de Viagens ao Nordeste do Brasil.
Com relação a Mossoró, cujos
registros Câmara Cascudo considerou o primeiro e melhor depoimento sociológico
e etnográfico da região, Koster assinalou que na época constava duzentos ou
trezentos habitantes, estando edificado em quadrângulo tendo uma igreja e
pequenas casas baixas. O viajante inglês enfatizou ainda a dura labuta
cotidiana dos sertanejos radicados no arraial de Santa Luzia do Mossoró, tendo
que conviver com a ameaça de animais ferozes e com as secas.
No arraial de Santa Luzia, Koster
reencheu garrafas de bebidas e supriu-se de tijolos de rapaduras, demonstrando
que o viajante inglês estava bem adaptado à cultura local. A rapadura, obtida
com o beneficiamento da cana-de-açúcar em engenhos e moagens, tornou-se um dos
símbolos do Nordeste Brasileiro.
A igreja a qual Koster fez referência
é a atual matriz de Santa Luzia, em cuja imediação é considerada por muitos como
o marco zero do povoamento mossoroense.
Com relação ao citado templo católico, encontramos na Wikipédia que: A primeira edificação no local foi uma
capela fundada oficialmente no dia 5 de agosto de 1772. Na
ocasião, o sargento-mor da ribeira do Mossoró, Antônio de Souza Machado, e sua
mulher, Rosa Fernandes, receberam autorização para construir uma capela na
fazenda Santa Luzia, de sua propriedade. Em 13 de julho de 1801, Rosa
Fernandes, já viúva, doou o patrimônio da Capela de Santa Luzia, onde já eram enterrados os mortos da cidade desde 1773. Em 1830 foi feita uma reforma na capela, que recebeu uma imagem de Santa
Luzia de Mossoró, em madeira, esculpida em Portugal.
Motivos históricos, como a fixação
efetiva da população e a continuidade do povoamento, foram levados em conta
para a fixação do marco zero ao lado da igreja matriz de Santa Luzia, pois há
consenso entre àqueles que escreveram sobre Mossoró que a povoação tomou
impulso histórico e geográfico a partir da construção do templo em devoção à
santa italiana.
Polêmicas, no entanto, são enfatizadas com
relação ao início da colonização e do povoamento de Mossoró, pois há registros
bem antes de 1772, com a presença dos Carmelitas no Rio do Carmo.
Em Viagens ao Nordeste do Brasil, Koster não faz menção à existência
da Missão Carmelita no rio do Carmo, talvez em razão de sua viagem não ter sido
realizada contemplando efetivamente a área de fixação dos religiosos oriundos
de Pernambuco, não obstante haver citação em Viagens ao Nordeste do Brasil que houve travessia do leito seco do
Panema, em cujo curso encontrava-se a redução Carmelita de catequese.
Em todo relato enfatizado por Koster,
constata-se inexpressiva espacialização geográfica no arraial de Santa Luzi e
em áreas adjacentes, pois avançando em direção ao Ceará, na localidade Tibau,
destacou existir esparsas choupanas de pescadores e cinco ou seis casinhas de
palha no povoado de Areias.
A fim de dar sustentação à tese que
defende o surgimento de Mossoró a partir da igreja de Santa Luzia, o escritor e
historiador Geraldo Maia afirma que: O
fato dos Carmelitas terem sido os primeiros habitantes da região não quer dizer
que os mesmos foram os fundadores, nem tampouco que a mesma nasceu no Carmo.
(...) Mossoró surgiu ao redor da Capela de Santa Luzia em 1772, erguida no
pátio da fazenda do mesmo nome, nas margens do rio Mossoró, por isso ficou
sendo arraial de Santa Luzia, sendo emancipada como Vila do Mossoró, em 15 de
março de 1852 , através da lei número 246, e elevada ao predicamento de cidade
em nove de novembro de 1870, através da Lei número 620 da mesma data, passando
a ser Cidade de Mossoró como permanece até os dias atuais.
O escritor e historiador Geraldo Maia
defende que se os Carmelitas realmente tivessem tido a primazia de ter
fomentado a efetiva colonização e povoamento de Mossoró, a Cidade teria tomado
a denominação toponímica de Nossa Senhora do Carmo, Carmópolis ou denominações
parecidas.
Os escombros da antiga morada dos
Carmelitas existem, visitei-os diversas vezes, motivado pelos relatos fabulosos
de David Medeiros Leite, Gildosn Sousa Barreto e José Lima Dias Júnior em Os Carmelitas em Mossoró, opúsculo importantíssimo
para a história local em razão que defende com plausíveis argumentos a
instalação do verdadeiro marco zero do início da povoação na região do rio do
Carmo.
A presença Carmelita no Rio do Carmo
é fato histórico inegável, datando do início do século XVIII, setenta anos
antes da construção da igreja de Santa Luzia, motivo pelo qual não se pode
desprezar a contribuição inequívoca que a ordem religiosa prestou para a
História mossoroense, havendo necessidade de se repensar a importância de se colocar
placa alusiva ao fato histórico referente ao início do povoamento também na
área em que se fixou a missão religiosa na terra dos Monxorós, pois a
existência de dois marcos zeros não é algo possível para a localização
histórica referente ao início da colonização e povoamento de um lugar.
FONTES
CONSULTADAS:
Catedral
de Santa Luzia de Mossoró. Disponível em .< https://pt.wikipedia.org/wiki/Catedral_de_Santa_Luzia_de_Mossor%C3%B3>. Acesso em: 03 de junho de 2016.
DAVID
MEDEIROS LEITE. Disponível em .< http://www2.uol.com.br/omossoroense/120504/entrevista.htm>. Acesso em: 09 de junho de 2016.
GASPAR,
Lúcia. Henry Koster. Pesquisa Escolar Online. Fundação Joaquim Nabuco, Recife.
Disponível em .< http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar_en/index.php?option=com_content&id=1115>. Acesso em: 20 de julho de 2016.
LEITE,
David Medeiros; BARRETO, Gildson Sousa; DIAS JÚNIOR, José Lima. Os Carmelitas
em Mossoró. Mossoró: Fundação Vingt-un Rosado, 2002.
MAIA,
Geraldo. Assim Nasceu Mossoró. Disponível em: .< http://blogdomendesemendes.blogspot.com.br/2011/11/assim-nasceu-mossoro.html
>. Acesso em: 05 de junho de 2016.
_______________. Henry Koster e Mossoró em 1810. Disponível
em: .< http://www.caldeiraodochico.com.br/henry-koster-e-mossoro-em-1810/>. Acesso em: 08 de julho de 2016.
_______________.
Seriam os Carmelitas os fundadores de Mossoró? Disponível em: .< http://www.blogdogemaia.com/geral.php?id=167>. Acesso em: 09 de julho de 2016.
KOSTER,
Henry. Viagens ao Nordeste do Brasil. 12ª edição. Tradução, prefácio e
comentários de Luís da Câmara Cascudo. Rio – São Paulo – Fortaleza: ABC
Editora, 2003. V. 01.
___________.
Viagens ao Nordeste do Brasil. 12ª edição. Tradução, prefácio e comentários de
Luís da Câmara Cascudo. Rio – São Paulo – Fortaleza: ABC Editora, 2003. V. 02.
ROSADO,
Vingt-un. Koster volta a Mossoró. Mossoró: Fundação Vingt-un Rosado, 1998
(Série C, Coleção Mossoroense, V. 990).
______________.
Mossoró. Mossoró: Fundação Vingt-un Rosado, 2006 (Série C, Coleção Mossoroense,
V. 1521).
José Romero
Araújo Cardoso.
Geógrafo. Escritor. Professor-Adjunto do Departamento de Geografia (DGE) da
Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais (FAFIC) da Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte (UERN). Membro do ICOP (Instituto Cultural do Oeste
Potiguar), SBEC (Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço) e da ASCRIM
(Associação dos Escritores Mossoroenses). Diretor de Acervos da ASCRIM
(Associação dos Escritores Mossoroenses) (Biênio 2017-2018).
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